segunda-feira, 20 de junho de 2011

Quinze minutos, vamos aproveitar!

A divulgação do artigo Tapajós e Carajás: por que não? superou todas as expectativas que eu poderia ter acerca dele. Surgido como resposta a alguns e-mails de amigos belenenses que se mobilizam contra a divisão territorial do Pará, confesso ter dedicado pouquíssimo tempo à sua elaboração e revisão (cerca de 40 minutos), antes do envio definitivo a diversos e-mails de contatos e publicação neste blog - seguida de indicação no Twitter.
Em pouco menos de 3 semanas de nascido, o artigo ganhou diversas referências, na rede entre as quais localizei o site Farol do Tapajós, de Dayan Serique,; o blog Rabiscos do Antenor, de Antenor "paulistano, palmeirense e aposentado"; o blog Minhas Inspirações & Etc., de Socorro Carvalho, o site Geosociedade, de Sidnei Rocha (apesar de não conseguir, hoje, ter acesso ao artigo) e o Blog do Jeso, de Jeso Carneiro.
Agradeço a todos pela atenção ao meu pequeno manifesto em defesa desta terra que agora sou parte, aos editores dos blogs e sites por o considerarem algo interessante e em especial ao jornalista Jota Ninos, que tanto auxiliou nesta divulgação gratuita e descompromissada.
Se Andy Warhol falava em quinze minutos de fama para todos, estou aproveitando os meus enquanto é possível. Não, não dou autógrafos, não sou parado nas ruas e nem quero isso. O simples de meu escrito ter ecos tão mais ampliados do que imaginei já é satisfação mais que suficiente.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Tapajós e Carajás: por que não?

Com o plebiscito para a criação dos estados do Tapajós e Carajás efetivamente aprovado, vem a questão: para que dividir o estado do Pará? Por que fazer o segundo maior estado em extensão territorial (atrás somente do Amazonas) se reduzir a uma área pouco menor que o estado de São Paulo? Por que levar o Pará a perder tantas de suas riquezas naturais? Enfim, várias são as questões colocadas diante disto. A discussão é acalorada, mas requer muito mais que o calor da discussão. O que pretendo aqui é apresentar elementos em defesa da criação dos novos estados, o quanto poderá ser melhor para todos (mesmo para quem é contra) e o que efetivamente irá mudar.

Em primeiro lugar, é fato: o paraense não conhece o Pará. Conhece seu município, sua região metropolitana, interiores próximos, até mesmo outros estados; quando muito visita esporadicamente outras áreas dentro do seu imenso estado. É mais fácil para um santareno conhecer Manaus que conhecer Belém, assim como para um belenense conhecer capitais nordestinas que conhecer Santarém. A proximidade é maior, em ambos os casos, embora o acesso de uma cidade a outra se faça em pouco mais de uma hora, via aérea. Talvez por este pensamento limitado ao seu próprio quinhão de terra, movimentos pró e contra a divisão territorial sejam tão acalorados.

Quantos, dos estimados 3 milhões de habitantes da região metropolitana de Belém, passaram ao menos um mês no oeste paraense? Se ficou em Santarém, deve ter ficado com uma péssima impressão da cidade: ruas esburacadas, locais públicos mal-cuidados, transporte urbano da pior qualidade, enfim, a sensação de abandono do poder público, apesar de ouvir falar pouco em assaltos, roubos, assassinatos e outros crimes típicos das urbes. Se foi para os interiores, deve ter visto projetos de mineração e agronegócios funcionando próximo a núcleos urbanos pouco desenvolvidos, embora com alguma infra-estrutura minimamente funcional em alguns casos.

Como pode um lugar com tanto a oferecer estar tão limitado? Recursos financeiros vindos da União levam em conta população, não extensão territorial. Os recursos anuais ao estado do Pará levam em conta os quase 7,5 milhões de habitantes de toda sua extensão, cuja maioria se concentra justamente na região metropolitana de Belém. O destino dos recursos é também proporcional: maior parte para onde há mais habitantes. Ora, oeste e sul paraenses são tão mais extensos e tão menos habitados que os benefícios que chegam aqui são inferiores à demanda. Parece justo?

O novo Pará, pós-divisão, vai perder? Nada mais que território. Não vai perder recursos destinados a ele, não vai perder soberania (que pouco tem a ver com extensão territorial), não vai perder identidade (vai continuar parte da Amazônia, vai continuar com sua vasta e incrível cultura, vai continuar com sua maravilhosa gente). Vai ganhar em administração com o menor território (melhor distribuição de recursos, efetivação das ações nos interiores), garantindo o que já há de bom e pode melhorar. Os novos estados, por sua vez, também ganham: melhor infra-estrutura, mais oportunidades de emprego (as populações locais poderão ter mais acesso a empregos que perdem para profissionais de outras partes do Brasil por falta de qualificação), além da possibilidade de deixarem de ser “cidades do futuro”, para desde o presente se desenvolverem.

Afinal, no que a vida dos habitantes do novo Pará vai mudar de fato com a divisão? Vão deixar de ter acesso aos benefícios da mterópole? Vão perder identidade cultural? Perder oportunidades de emprego? Creio que não vão perder nada mais que um pouco do orgulho de ser um grande estado, que, convenhamos, não tem sido nada vantajoso para nós. Nasci, cresci e formei minha identidade em Belém. Conheci pessoas de várias partes do Brasil com quem posso conversar como igual, indepentemente de onde veio. Há santarenos entre meus interlocutores favoritos, pessoas que formaram massa crítica apesar de todos os entraves de ser interior em desvantagem. Será que esta condição deverá permanecer para que continuemos formando massa crítica? Por que não abrir as mesmas oportunidades educacionais para todos? Educação também perde nessa situação...

Por fim, creio que, deixando de lado “bairrismos”, fatuidade política e discursos de soberania que remetem aos governos militares, podemos passar a nos enxergar de maneira mais igualitária. Do que nos adianta sermos todos paraenses se não nos entendemos? Todos irão continuar comendo bolo, só que dividido mais justamente e cada um com seu sabor favorito. A separação já existe: imprensa, comércio e indústrias locais são em sua maioria bem diferentes da metrópole. É só uma questão de efetivá-la. De que vale ser a castanheira que com sua sombra impede o crescimento de outras plantas, que não têm, mesmo crescidas, a menor condição de competir com a grande árvore?

Por isso, sim, dividir para multiplicar.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O martelo de Thor


Meus agradecimentos ao estudante da Formação Interdisciplinar I da UFOPA que me deu idéia para a discussão.

Nas turmas que tenho trabalhado na UFOPA, tenho buscado levantar discussões sobre a natureza do conhecimento científico. Trata-se de um tema que deveria (penso eu) ter amplo debate público, tal qual educação e saúde, pois, apesar da pretensa urgência destes assuntos em relação aos demais, debater como a ciência está inserida na sociedade pode levar a desfazer mitos e equívocos que têm permanecido na mídia e na educação acrítica e mantêm a ciência "acima de qualquer suspeita".

Um dos principais (e piores) mitos sustentados pela/sobre a ciência é o de sua neutralidade. Como se o conhecimento científico fosse produzido sem qualquer intervenção social, política, econômica ou cultural, como se cientistas fossem seres despersonalizados que deixassem sua identidade de lado ao iniciarem suas pesquisas, como se a motivação da ciência fosse pura e simplesmente o prazer de conhecer e o dever de salvar a humanidade. Enfim, uma idéia supostamente inofensiva, mas que pode ser problemática, em primeiro lugar, ao impossibilitar a discussão sobre o fazer científico.

Se a ciência traz benefícios ou malefícios, diz quem a acredita neutra, é a forma como ela é utilizada que define. Isto é, podemos julgar a tecnologia, a aplicação de descobertas científicas para fins específicos, mas a própria produção de conhecimentos estaria isenta de crítica. Lancei este questionamento nas turmas da UFOPA a partir da seguinte frase: "A ciência não é má; o uso que se faz dela é que pode ser". Apesar de já termos trabalhado com vários epistemólogos críticos que implodem qualquer pretensão de neutralidade na ciência, a maioria dos estudantes concordou totalmente com a frase. Aí vem o título do texto: um dos estudantes chegou a comparar a ciência com um martelo, pois dependendo de quem o utiliza, podemos ter uma ferramenta útil ou uma arma.

A comparação procede? Para mim, sim. Mas com algum ajuste: em vez de um martelo comum, a ciência me parece mais o martelo de Thor, deus nórdico tornado herói pelos quadrinhos e relembrado pelo cinema este ano. Este martelo, símbolo de poder, é o que confere força ao filho de Odin, tornando-o invulnerável e invencível. Ele o utiliza para punir tanto quanto para fazer justiça. Nos quadrinhos, o martelo é objeto de desejo dos vilões de Thor, que o querem apanhar para obter poder semelhante. Mas, nesta comparação, o martelo não continua neutro? Creio que não. A ciência é poder, como o martelo, e muitos são os que querem ser donos do poder que ambos conferem. Se este poder vai ser bem ou mal utilizado, é uma questão mais complexa do que parece à primeira vista.

Podemos questionar o artefato divino? Talvez estudando a mitologia nórdica. Bem como questionar a ciência, estudando-a, compreendendo-a, passando-a pelo crivo da crítica sóbria.